Bill Gates, em viagem à China, elogia o livre comércio
Por Cate Cadell
4 minutos de leitura
PEQUIM (Reuters) - O bilionário filantropo norte-americano Bill Gates revelou nesta terça-feira em Pequim um banheiro futurista que não precisa de água ou esgoto e usa produtos químicos para transformar dejetos humanos em fertilizantes.
O co-fundador da Microsoft Corp MSFT.O, que um dia antes foi um dos convidados de destaque em um grande evento comercial em Xangai, também elogiou os sistemas globalizados e de livre comércio que tornaram possível a tecnologia do banheiro.
"Sinceramente, acredito que o comércio permite que cada país faça o que sabe fazer melhor", disse ele à Reuters em entrevista na terça-feira.
"Então, quando falo sobre os componentes deste banheiro serem fabricados na China, outros na Tailândia, outros nos Estados Unidos - você realmente quer reunir todo esse QI para obter essa combinação."
A viagem de Gates ocorre em meio à tensão comercial entre a China e os Estados Unidos, as duas maiores economias do mundo, que impuseram tarifas recíprocas sobre bens no valor de bilhões de dólares.
O banheiro, que Gates disse estar pronto para venda após anos de desenvolvimento, é fruto da imaginação de projetos de pesquisa financiados pela Fundação Bill e Melinda Gates, a maior organização filantrópica privada do mundo. Existem vários designs de banheiro, mas todos funcionam separando resíduos líquidos e sólidos.
"O banheiro atual simplesmente joga o lixo na água, enquanto esses banheiros não têm esgoto. Eles pegam tanto os líquidos quanto os sólidos e fazem um trabalho químico nele, incluindo a queima na maioria dos casos", disse Gates à Reuters.
Ele comparou a mudança de banheiros tradicionais para modelos sem água como semelhante ao desenvolvimento da computação na época em que fundou a Microsoft em meados da década de 1970.
"Da forma como um computador pessoal é autocontido, não uma coisa gigantesca, podemos fazer esse processamento químico em nível doméstico", disse ele.
O saneamento precário mata meio milhão de crianças menores de cinco anos anualmente e custa ao mundo mais de US$ 200 bilhões por ano em custos de saúde e perda de renda, de acordo com a fundação.
A fundação de Gates destinou cerca de US$ 200 milhões para o projeto do banheiro e espera gastar a mesma quantia novamente antes que os banheiros sejam viáveis para distribuição em larga escala.
"Este ano, o volume de banheiros estará literalmente na casa dos 100, enquanto as pessoas ainda estão chutando pneus (testando-os)", disse Gates.
Durante um discurso no evento de Pequim, Gates ergueu um frasco transparente com fezes humanas para ilustrar a importância de melhorar o saneamento.
“É um bom lembrete de que (na jarra) pode haver 200 trilhões de células de rotavírus, 20 bilhões de bactérias Shigella e 100.000 ovos de vermes parasitas”.
É a primeira vez que a fundação de Gates se dirige a um evento na China, onde o presidente Xi Jinping está promovendo uma "revolução do banheiro" de três anos para construir ou atualizar 64.000 banheiros públicos até 2020 para ajudar a impulsionar o turismo e o crescimento econômico.
Gates disse que o próximo passo para o projeto é apresentar o conceito aos fabricantes, dizendo que espera que o mercado de banheiros ultrapasse US$ 6 bilhões até 2030.
A China está assumindo um papel maior na ajuda global ao lado de seus enormes investimentos em infraestrutura nos países em desenvolvimento como parte de sua iniciativa de política externa fundamental, Belt and Road.
Isso ocorre no momento em que o presidente dos EUA, Donald Trump, considera cortar a ajuda externa em meio a um esforço mais amplo para recuar de compromissos estrangeiros - uma área que contribuiu para a tensão comercial sino-americana.
Gates disse que seria um erro os Estados Unidos cortarem a ajuda.
"Não é uma grande parte do orçamento, mas o impacto é gigantesco", disse ele.
Reportagem de Cate Cadell; Edição por Christopher Cushing
Nossos padrões: Princípios de confiança da Thomson Reuters.